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Cristianismo, cultura e ordem social


Cesar Ranquetat Jr.



A ideia de que o cristianismo e, principalmente, o catolicismo romano se reduzam unicamente a uma via de salvação da alma individual é dúbia, historicamente incorreta e politicamente pode facilmente se tornar um aríete nas mãos da subversão mundial.


Ora, a Igreja Católica é o Corpo Místico de Cristo. É, fundamentalmente, uma realidade comunitária formada por batizados que formam uma sociedade, em potência, de sacerdotes e reis. Uma comunidade em união e comunhão santa, que comunga do corpo e do sangue do Verbo encarnado; integrada e vinculada por laços invisíveis com uma sociedade Trinitária de Amor e doação sacrificial: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Estrutura social e metafísica formada pelo mundo criado, pela Esposa de Cristo, pelo Salvador e seus filhos que, por sua vez, forjam no mundo famílias e comunidades que, de certa maneira, procuram espelhar os arquétipos divinos e a pólis celeste.


Conforme explica o filósofo Rafael Gambra, existe um nexo profundo entre a comunidade e a comunhão que se revela em seu sentido primordial e em suas origens etimológicas: “A palavra comunhão – de cum – com – e unum – significa possessão de algo em comum, participação neste algo; assim se comunga (a recepção da Eucaristia) em uma presença e vida superiores [...]”. O pensador tradicionalista espanhol assevera que uma comunidade autêntica é essencialmente uma unidade em uma fé e em um destino comum. Trata-se de um tipo de configuração social e cultural inspirada por um sentido transcendente e espiritual da existência; dotada de origens históricas e sobrenaturais e não simplesmente convencionais ou contratuais. É um modo de organização societal fundada na comunhão de valores, convicções, crenças, símbolos, práticas e sentimentos, mantida unida e coesa não apenas por laços e vínculos voluntários e racionais, mas também por liames emocionais.


O cristianismo fundou uma civilização, uma cultura e uma ordem política sacral, concretamente preocupada com a realização da caridade e da justiça social. Construindo com esforço e heroísmo - para a realização desta missão comunitária - universidades, hospedarias, hospitais, colégios, creches e uma rede formidável de instituições ancoradas nos princípios do amor e da solidariedade. Sobre isto o filósofo católico Juan Antonio Widow afirma com clareza:


[...] o cristianismo não é somente uma religião - entendida esta como uma dimensão, entre outras, da vida humana - [...] pois compreende uma sobrenaturalização ou elevação pela graça de todos os aspectos da existência do homem. Portanto, consiste em um reconhecimento da dependência da sociedade com respeito a Deus, enquanto seu máximo legislador e seu protetor; e na busca do bem comum natural enquanto ordenado ao bem comum sobrenatural, do qual é distinto, mas inseparável.


Nesse sentido, o cientista político e filósofo Augusto Del Noce observa com precisão que o catolicismo não é uma doutrina de espiritualidade separada da existência concreta, mas uma realidade viva, dinâmica e atuante que caminha em conjunto com a humanidade. O cristão, o católico, não pode cruzar os braços diante de forças políticas que agem difundindo uma cultura, ou melhor, um imaginário não somente não católico como decididamente anticatólico. Hoje, mais do que nunca, se faz necessário um empenho político dos cristãos; estes devem se ocupar das questões temporais, porém, mantendo sempre o senso da conexão do temporal com o eterno. Desta maneira, o cristianismo precisa ser visto não somente como uma fé em uma realidade suprassensível, mas também como uma força ativa que determina o sentido e dá uma orientação à existência pessoal e social.


Com o advento de Cristo Salvador o sêmen do Espirito divino transplantou-se na Terra e no Homem, de modo que o mundo social e político não é mais unicamente natural, mas natural e sobrenatural simultaneamente.


O cristianismo é a religião do Deus que se fez carne e que, nascendo pobre e assumindo a natureza humana, olha para os sofrimentos deste mundo, estendendo a mão para auxiliar os necessitados. Além disso, somos parte de uma longa cadeia sagrada que está em comunhão com os Santos, as milícias celestes dos anjos e a Virgem Imaculada.


Não podemos esquecer que o catolicismo é uma tradição espiritual que possui uma belíssima e coerente doutrina social e política de combate aos erros da modernidade liberal, capitalista e secular e não um clube gnóstico de individualistas que, sob o pretexto de conservar uma descivilização, querem "alimentar" artificialmente e com um verniz moral e pseudoreligioso “cristão" um navio que naufraga.


A catolicidade tradicional é a verdadeira força espiritual e metapolítica de combate contra as potências burguesas e plutocráticas deste mundo que, por trás dos bastidores, flertam com o Anticristo.


Nosso partido, como costumava afirmar Dom Bosco, é o Pai Nosso e nossa bandeira está pintada com o sangue do Cordeiro; Rei dos Reis e Senhor dos senhores. É Ele o verdadeiro Senhor de todas as coisas, das visíveis e das invisíveis.


A nova terra e o novo céu, prometidas pelo Cristo Salvador e Juiz, representam a renovação total do mundo, e não uma cômoda consolação pequeno-burguesa e egocêntrica.




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