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Uma visão realista do Brasil


Cesar Ranquetat Jr




Se existe algo que me incomoda de verdade é a insistência nesta visão depreciativa, excessivamente irônica e com ar de soberba sobre o Brasil, a América Hispânica e nossa gente.


Pergunto: será que estes depreciadores realmente conhecem nosso país, seus rincões, as pequenas cidades, as vilas interioranas, o povo sofredor do sertão, o heroico bandeirante, o valente gaúcho e outros tipos nobres e íntegros que formaram nossa nação? Ou apenas enxergam o Brasil de longe, com o olhar do estrangeiro, com a visão ingênua e deslumbrada de quem descobriu as supostas maravilhas de comodidade e bem-estar material do primeiro mundo e agora percebe o Brasil com ar de superioridade?


Não é possível reconstruir o Brasil desprezando seu povo, sua cultura e a sua história. Amar a pátria é abraçá-la mesmo com todos os seus limites, problemas e contradições. Achar que as nações do primeiro mundo são uma maravilha, rebaixando o Brasil à condição de pária é um desserviço; é colocar na mente de cada concidadão um bloqueio, uma camisa de força, e condenar uma nação ao servilismo e ao colonialismo cultural. Não somos piores do que nenhum outro país, temos defeitos e virtudes como qualquer povo.


A reconstrução da pátria, terra de nossos pais, de nossos ancestrais, nosso solo sagrado e nossa paisagem existencial, começa dentro de cada um de nós. Esta é uma tarefa que deve ser realizada com humildade, amor, fé, simplicidade e heroísmo. Deus fez as nações e colocou cada um de nós neste país e neste momento histórico para lutarmos diariamente pela nossa dignidade e grandeza.


Importa sublinhar que os problemas brasileiros não são única e exclusivamente culturais e morais, mas também econômicos, materiais, sociológicos e geopolíticos.

Vivemos num país continental com imensos recursos naturais e humanos, porém, com graves desequilíbrios sociais e regionais. Enfrentamos os desafios de um processo de urbanização caótico e descontrolado, onde é visível e vergonhoso a existência de uma enorme população desempregada nas cidades, e um significativo contingente de miseráveis, passando fome e todo o tipo de necessidades.


Pobres que sobrevivem em um ambiente deteriorado urbanisticamente e marcados muitas vezes na carne e na alma pela marginalidade, a violência, o alcoolismo, as drogas e a anomia social; sem espaços para o lazer, sem luz elétrica, saneamento e postos de saúde. Vidas dilaceradas e privadas de um horizonte de mudança e elevação. Vidas indignas para um ser humano, e que necessitam do amparo da comunidade e dos poderes públicos.


Junto com isto, em termos estratégicos e geopolíticos, há o desafio da construção de uma autêntica soberania nacional, e da defesa de nosso extenso e rico território cobiçado por grandes potências e forças supranacionais.


Diante desta dura realidade, é urgente a formação de um projeto de desenvolvimento verdadeiramente autônomo, que, dentre outras coisas, coloque no centro das atenções o interesse nacional, o bem comum e a realização da justiça.


Para superar estas dificuldades é necessário abandonar os modismos ideológicos, as falsas dicotomias, as miragens modernas de tonalidades europeizantes e americanizantes, e a ilusão de que nossos graves problemas se resolverão pelas forças naturais do mercado.

O Brasil se erguerá forte e altivo com o ressurgir do sentimento de comunidade e fraternidade entre todos os seus cidadãos, e com o reviver do sentido de que nós devemos abraçar, para além de todas as contendas e diferenças, a causa do Brasil, cumprindo com alegria, amor e coragem nossas responsabilidades cívicas e patrióticas com a Terra de Santa Cruz.

O papel e a missão do homem brasileiro no mundo não é de ser uma cópia servil ou um mero satélite do moderno homem ocidental, portador e irradiador de uma civilização decadente, simplesmente técnica, científica e materialista. Mas, como explica o grande antropólogo Gilberto Freyre, ser em sua realidade nacional e projetar em espaços sociais outros um novo modelo humano e uma nova cultura, a lusotropical.


Hispanotropicalidade centrada em valores não apenas utilitários e pragmáticos, como do atual ocidente em declínio, mas ancorada em atitudes e valores lúdicos, meditativos, contemplativos, intuitivos e afetivos. Formando assim uma ordem social marcada pela amizade, harmonia, receptividade, abertura e plasticidade, em contraste com a rigidez de um cadáver. Edificando com simplicidade e coragem algo de novo e original, que resgate e combine em um esforço de unidade e síntese o passado com o futuro, o arcaico com o além do apenas moderno.


Apesar destas pistas, observações e intuições, no Brasil atual não há um pensamento político, sociológico e antropológico propriamente nacional, com ressonâncias significativas e transformadoras no mundo social .

O pensamento nacional necessita ser entendido não unicamente como o anseio que um povo tem pela justiça, a liberdade e o poder econômico e político. É, sobretudo, algo que se refere a finalidades e objetivos mais elevados, superiores, conectando-se com a busca de um sentido comunitário e do papel que a nação quer desempenhar no mundo, trata-se da procura de uma missão especial, da pergunta sobre o que faz o brasileiro na terra? E, assim, de como nosso destino nacional vincula-se com o destino universal do homem neste mundo. É a luta pela descoberta do ser nacional e de uma ideia nacional orientadora e ordenadora. A meditação sobre a nossa realidade concreta, a reflexão acerca o nosso destino nacional pode conduzir a um pensamento sobre questões essenciais da vida humana e a formulação de um pensamento de conjunto, universal que enlace o político, o social, o comunitário com o espiritual e o metafísico.






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