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Liberalismo e globalismo

Cesar Ranquetat Jr



A utopia liberal iluminista de um livre mercado global nada tem de “conservadora”, já que não obedece aos princípios de uma política prudencial e não respeita e reverencia concretamente a herança histórica. É na prática e essencialmente uma força antitradicional e desestabilizadora que, amiúde, provoca graves desequilíbrios sociais, o enfraquecimento da unidade moral e a perda do sentido comunitário. Sendo assim, colabora decisivamente para o surgimento de um ambiente cultural no qual os únicos valores absolutos e inegociáveis são os impulsos e os desejos individuais, o exibicionismo, o consumo e a prosperidade.


Ora, uma sociedade obcecada pela competição econômica, pelo sucesso, pela ideia do vencedor (winner) em um sentido puramente material, pode gerar nos “perdedores” (losers) e “fracassados” sentimentos negativos de inveja, insegurança, ciúmes, inferioridade e ressentimento que, em seguida, serão instrumentalizados por forças revolucionárias. Invariavelmente, as sociedades liberais, relativamente bem sucedidas na geração de riquezas e comodidades, criam, por outro lado, intensos problemas de ordem cultural, moral e social, os quais são explorados até as últimas consequências por agentes políticos radicais de esquerda. Estes acabam por aniquilar com as derradeiras colunas e pilares de resistência deste edifício civilizacional, já bastante enfraquecido e corroído pela ação dos mecanismos de intoxicação mental presentes em uma cultura dominada pela lógica mercantil e pelo espírito de ostentação narcisista.


As sociedades da afluência criam constantemente novas necessidades, novos desejos, novos prazeres e novos objetos que, dentre outros efeitos, acabam por conduzir as coletividades a um estado de perpétua incerteza, ansiedade, insegurança e instabilidade psicológica.


Em termos práticos e concretos, os regimes políticos liberais partidocráticos se caracterizam por uma discussão permanente e estéril, pois não defendem verdades políticas e morais substantivas, mas apenas tentam artificialmente e de maneira inglória conciliar opiniões divergentes. Um dos resultados culturais disto é a formação de um estado de ceticismo duradouro na sociedade, privando gradualmente os indivíduos e as coletividades de todo ideal e valor superior.

Os vínculos entre a ideologia do liberalismo em suas diversas vertentes e o globalismo são evidentes. Para começo de conversa, toda a rede de instituições supranacionais como o FMI, a OMC, o Banco Mundial, a ONU, a União Europeia, bem como uma miríade de organizações privadas que dirigem direta ou indiretamente a política, a cultura e a economia mundial como a Comissão Trilateral, o Council on Foreign Relations (CFR), o Clube Bilderberg e os inúmeros think tanks norte-americanos e ingleses espalhados pelo mundo seguem a filosofia liberal da “sociedade aberta” em algumas de suas modalidades: radical, progressista ou moderada.


As forças ligadas ao turbocapitalismo financeiro global são tão poderosos e astutas que, pasmem, são capazes de até mesmo absorver e dirigir indireta e discretamente a esquerda mundial. Mais ainda, podem fabricar e controlar “falsas oposições” ao sistema e suscitar aparentes dissidências internas ao establishment. Quem dirige o processo de “demolição programada” do que ainda resta de saudável, decente e de “senso comum” em nossa cultura são as oligarquias econômicas cosmopolitas, o “imperialismo internacional do dinheiro” como tão bem definiu e caracterizou o papa Pio XI; a esquerda e outras forças políticas afins participam deste tenebroso jogo apenas como ingredientes secundários e acessórios.


Nada pode ser mais benéfico e frutífero ao turbocapitalismo globalizado do que a afirmação de “sociedades abertas” despidas de qualquer tabu moral, cultural e religioso. A consolidação de um tipo humano fugaz e infantilizado que se orgulha de viver sem limites, princípios e fronteiras espirituais e físicas é um trabalho que a esquerda pós-moderna e multiculturalista está realizando com grande maestria ao propagandear os mecanismos e as operações ideológicas de desconstrução, desmiticação e libertação antropológica. A formação de uma nova (des)civilização humana sem culpas, sem complexos, repressões e tabus, exaltada pelos progressistas e pós-modernos à esquerda do espectro político e cultural é justamente a menina dos olhos das oligarquias políticas e financeiras liberais e cosmopolitas.


Verdade elementar, porém, frequentemente esquecida e ocultada em certos ambientes: as atuais sociedades liberais-capitalistas que, dentre outras desordens e deformações, entorpecem os seres humanos com entretenimento banal, desejos artificiais e consumismo vulgar, têm colaborado decisivamente no processo de descristianização das culturas, fomentando direta ou sutilmente a apostasia e o obscurecimento do sentido moral.





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