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Writer's pictureCesar Ranquetat

A cultura do excesso

Nada em demasia, eis um lema essencial da sabedoria clássica grega que precisa ser recuperado em nosso tempo. Vivemos em uma cultura do excesso, que fomenta todo o tipo de exagero e descomedimento. Somos bombardeados por mensagens e imagens que, de maneira explícita ou subliminar, estimulam sempre o mais, ou seja, o ter mais dinheiro, riquezas e bens materiais; o consumir mais; o ganhar mais; o gastar mais; o comer cada vez mais; o viver mais intensamente; o conhecer e o relacionar-se com mais pessoas; o desfrutar de mais prazeres e sensações; o explorar mais os recursos naturais; o crescer mais no que diz respeito à economia; o produzir mais e o trabalhar mais.

Esta sociedade da abundância e do ilimitado acaba por conduzir a uma ruptura do equilíbrio da ordem do cosmos, da ordem social e da ordem pessoal, e ao obscurecimento do sentido e da prática da virtude da prudência e da moderação em nossas vidas.

A ideologia do ilimitado e do progresso infinito que orienta a mentalidade moderna e contemporânea ambiciona emancipar os seres humanos dos laços sociais, culturais, históricos e religiosos que configuram a sua identidade pessoal e coletiva, transformando as sociedades em uma mera aglomeração confusa e anárquica de indivíduos atomizados que buscam maximizar suas liberdades e desejos.

O domínio das paixões e dos desejos desordenados que escapam ao controle da razão e da vontade, assim como a procura incessante pelo acúmulo de bens e riquezas materiais são, na realidade, forças que escravizam o homem ao mundo da imanência e dos impulsos, desestabilizando sua vida interior e destruindo os laços comunitários. Instaura-se uma caricatura de vida coletiva, uma dissociedade de ventres ambulantes, consumistas compulsivos, zumbis e arrivistas egocêntricos; e não uma comunidade moral dotada de uma missão e um destino histórico, formada por homens verdadeiramente livres e virtuosos.

Esta anômala sociedade do bem-estar estimula unicamente o crescimento da “animalidade” do homem, pois, cinge-se ao âmbito da vida sensível e material. Estranha configuração social e cultural voltada exclusivamente para o desenvolvimento em um sentido horizontal e, que, portanto, parece ter perdido o senso de verticalidade e a dimensão sacral da existência.

Diante deste cenário de perturbação e anormalidade, necessitamos recuperar o senso de medida e de limite, assim como as ideias de harmonia e temperança para, deste modo, resgatarmos em termos concretos a beleza e a ordem na alma e no mundo social.


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