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Writer's pictureCesar Ranquetat

A Revolução Cultural do Grande Capital



Cesar Ranquetat Jr.


É verdade que parte das sociedades ocidentais passaram por um revolução cultural gramsciana. Isto é inegável. No entanto, também é um fato social, bastante documentado por sinal, de que ocorreu e continua a ocorrer nas nações desta parte do globo e, no mundo inteiro, uma gigantesca revolução cultural liberal capitaneada pelas forças do grande capital.

Uma série de fenômenos sociais, culturais e históricos, que apresentam como ponto de partida as décadas de 1950, 1960 e 1970, os quais parecem se intensificar e se radicalizar nos últimos anos, apontam para esta transformação profunda, operada pelo grande capital, da mentalidade, dos comportamentos e do imaginário dos povos. Listo aqui alguns destes eventos impactantes: o surgimento do Rock, do supermercado, do shopping center, da pílula anticoncepcional, da Revista Playboy, da televisão, do fast-food, a publicação dos relatórios Kinsey, a onda New Age e a afirmação da música eletrônica. Todos estes eventos culturais, assim como muitos outros que tiveram como epicentro os Estados Unidos e a Europa ocidental, colaboraram para a emergência da cultura psicodélica dos hippies que, paradoxalmente, parece estar na origem do desenvolvimento dos yuppies, tipo ambicioso e obcecado com a fama, o dinheiro e o sucesso, orientado por uma visão hipercapitalista, individualista e libertária do mundo. Sublinho, dos hippies, da cultura psicodélica das drogas, do sexo livre e da diversão a qualquer custo surge o tipo antropológico yuppie; e a proliferação do “indivíduo start-up” que marca o exótico universo do Vale do Silício (Silicon Valley) americano o qual está intimamente vinculado com o supercapitalismo global e cibernético, de feição tecnocrata e transhumanista, que está a se consolidar diante de nós.

É preciso ser claro e insistir neste ponto: o supercapitalismo mundialista nada tem de “conservador”, “reacionário”, “patriarcal” e “heteronormativo”. Ele é essencialmente libertário e contracultural, cosmopolita, consumista e permissivo. Não é preciso ter refinados conhecimentos para chegar a esta conclusão.


Vale aqui lembrar que o velho Karl Marx, em uma célebre passagem de inegável importância histórica, atualidade e concretude, já destacara o caráter essencialmente revolucionário do capitalismo liberal:


A burguesia não pode sobreviver sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e com eles as relações de produção, e com eles todas as relações sociais. (...) Revolução ininterrupta da produção, contínua perturbação de todas as relações sociais, interminável incerteza e agitação, distinguem a era burguesa de todas as anteriores. Todas as relações fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade e veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações se tornam antiquadas antes que cheguem a se ossificar. Tudo o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens finalmente são levados a enfrentar (...) as verdadeiras condições de suas vidas e suas relações com seus companheiros humanos.


Não sou marxista, longe disso, mas neste ponto o teórico social alemão acertou em cheio. O capitalismo sem freios mercantiliza e “profana” todas as relações humanas.


O grande capital unido às novas tecnologias e ao seu substrato ideológico, o progressismo desconstrucionista transnacional, são as grandes forças revolucionárias de nosso tempo.



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